Conforme evidencia Francisco Gonçalves Perez, nos últimos anos, a economia global passou por transformações significativas, marcadas por uma combinação de choques externos, tensões geopolíticas e mudanças estruturais profundas. A pandemia da COVID-19 desencadeou uma série de estímulos fiscais e monetários sem precedentes, seguidos por interrupções nas cadeias de suprimentos e uma recuperação desigual entre países e setores.
Com o tempo, essa instabilidade evoluiu para uma inflação persistente, levando os bancos centrais a reavaliar suas políticas monetárias. Saiba mais, a seguir!
Por que os bancos centrais estão revendo suas estratégias?
Tradicionalmente, os bancos centrais utilizavam as taxas de juros como principal ferramenta para suavizar os ciclos econômicos. No entanto, o cenário atual desafia essas práticas. Com a inflação se tornando mais resistente do que o esperado e os mercados de trabalho permanecendo aquecidos, mesmo após aumentos agressivos nas taxas, os formuladores de políticas monetárias enfrentam dilemas complexos.
Segundo Francisco Gonçalves Peres, reduzir juros cedo demais pode reacender a inflação, enquanto mantê-los altos por muito tempo pode comprometer o crescimento e a estabilidade financeira. Além disso, o endividamento elevado de governos e empresas limita a margem de manobra para políticas monetárias tradicionais.
Estamos entrando em uma era de juros permanentemente mais altos?
Muitos analistas começam a considerar a possibilidade de que o mundo esteja se afastando do regime de juros baixos que dominou os anos pós-crise de 2008. A chamada “nova normalidade” pode envolver taxas de juros reais mais elevadas, impulsionadas por fatores como a transição energética, o aumento dos gastos públicos com defesa e infraestrutura, e um mercado de trabalho mais rígido.

Francisco Gonçalves Perez explica que ainda que a inflação de bens tenha começado a ceder, a inflação de serviços segue resiliente, sugerindo que os bancos centrais terão menos espaço para cortar juros agressivamente nos próximos anos. Isso implica uma reconfiguração das expectativas de longo prazo por parte de investidores, empresas e consumidores.
O que essa nova dinâmica significa para os mercados financeiros?
Com os juros mais altos por mais tempo, os mercados estão passando por uma reavaliação de ativos. Os investidores agora demandam prêmios de risco maiores, especialmente em títulos de longo prazo, o que tem pressionado as bolsas de valores e aumentado a volatilidade nos mercados de crédito. Ademais, a curva de juros mais inclinada ou mesmo invertida em alguns países indica a expectativa de recessão futura, o que complica decisões de alocação de portfólio.
Embora o controle da inflação seja essencial, há riscos significativos associados a uma política monetária excessivamente restritiva, pontua Francisco Gonçalves Peres. O principal deles é o de provocar uma desaceleração econômica profunda, com aumento do desemprego e queda na atividade produtiva. Além disso, juros altos por períodos prolongados aumentam o custo da dívida pública e privada, o que pode levar a crises de crédito ou insolvência, especialmente em setores mais endividados.
Conclui-se assim que o futuro dos ciclos de juros globais dependerá de múltiplos fatores interligados: a trajetória da inflação, os desdobramentos geopolíticos, a evolução da produtividade e as pressões demográficas. Para Francisco Gonçalves Perez, os bancos centrais, por sua vez, terão de adotar uma postura mais adaptativa e responsiva, movendo-se com cautela diante dos sinais econômicos.
Autor: Alen Barić Silva